Seleção
Um pouco da história do tradicional, e rigoroso, processo de admissão de novos bolinhas
Após a fundação, o crescimento do Clube da Bolinha em número de participantes foi lento. Em 1951, eram apenas treze membros em um aumento cauteloso mais relacionado com o rigor na seleção do que com a falta de candidatos. Desde o início foi instituído uma austeridade espartana para a inclusão de novos membros, com o sistema de bolas brancas e pretas para a eleição e a seguinte regra no regimento interno do grupo (batizado de decálogo):
“O Clube da Bolinha terá número ilimitado de membros, devendo a admissão ser feita mediante votação unânime dos associados presentes às reuniões privadas”.
Essa exigência por unanimidade dificultou a admissão de novos Bolinhas. Isso, no entanto, não parecia incomodar os membros do Clube, como relatou Alberico Ravedutti Bulcão. “Éramos, então, uns 12 ou 13 Bolinhas, muito orgulhosos disso, elitistas mesmo. Parece-me hoje que nos dava uma certa importância o poder do veto, o poder de, qual deuses, definir quem era bom e quem não era. Talvez por isso temíamos, cada um de nós, apresentar candidatos a ingresso na sacrossanta confraria. Lá um belo dia, um companheiro ousou indicar um tradicional segurador de então. Quem sabe precisasse urgentemente de uns “cossegurinhos”. No jantar em que rolariam as bolas, um outro companheiro, inflamado até, fez o elogio do candidato. Ouviram-se até palmas. Finalmente, a votação, secreta, e rolaram as bolinhas. Todas pretas. Absolutamente pretas. Foi um vexame”.
Nesse caso, mesmo o Bolinha que apresentou o candidato e aquele do discurso inflamado em favor do postulante, na hora de escolherem entre branca e preta, qual deuses, concluíram que o colega não reunia as qualidades necessárias para fazer parte do grupo.
No início do Clube, os membros sabiamente criaram um dispositivo para evitar que “vexames” como o relatado por Alberico provocassem constrangimento a profissionais notoriamente respeitados pelo mercado. Havia, para isso, a figura do sócio “cartola”, reservada a essas pessoas que passavam a fazer parte do clube automaticamente.
“A estes era convencionalmente vedado ser propostos para ingresso à incipiente confraria de então e concorrerem à sorte das bolas brancas e pretas”, explicou Humberto Roncarati, ele mesmo um dos “cartolas”.
Na segunda metade dos anos 60, esse acesso restrito passou por um questionamento objetivo. Em 1966, os bancos passaram a atuar no setor de seguros. A questão que se apresentou foi a seguinte: “Podem seguradores de bancos serem sócios?”.
A discussão foi acalorada e terminou com o argumento de Joaquim Antonio Borges Aranha. “E por que não? Seremos nós os únicos puros neste vale de lágrimas? Seremos, todos e ao mesmo tempo, umas Madres Terezas de Calcutá?” Assim, os colegas dos bancos passaram a ser admitidos.
Logo em seguida à “questão bancária”, veio a “questão da juventude”. E os jovens que se destacam no mercado? Podem ser Bolinhas, ou o Clube deve manter-se restrito às figuras mais tradicionais e experientes? Novamente uma ponderação inquestionável de Francisco Latini encerrou o assunto. “Se nos fecharmos muito, mais breve do que talvez possamos esperar, certamente seremos apenas uma saudade”.
Em 2008, o reitor no período entre 2001 e 2003, Michal Jerzy Swierczynski, concordou com o argumento de Latini e citou a renovação como uma das suas principais realizações a frente do grupo. “Na minha gestão como reitor do Clube, tive como objetivo trazer os talentos jovens do mercado segurador, o que foi concluído com sucesso e seguido pelos meus sucessores. Hoje temos, não somente aqueles profissionais mais antigos e com muita experiência, mas também os jovens trazendo as mudanças e ideias inovadoras”.
Atualmente, a exigência por unanimidade na eleição se transformou em 2/3 das bolas brancas que permitem a entrada de um novo membro.